9.11.17

Trascurso Mental

Trascurso Mental 

No meu peito nascem sonhos e fantasias.

Conjunto e analiso combinações para o verbo querer;
Compro livro de relacionamento pra gente se entender.

Às vezes acho que não vou esquecer a rua da sua casa.

E um dia, vou tocar sua campainha e dizer o quanto quis,
Te mandar os poemas que eu fiz.

Hoje eu descobri o movimento
Que faço de volta ao lugar de sofrimento -
A erva me iluminou.

O sofrimento é quando eu te amo,
E suponho das palavras não necessitar;
Omitir tudo o que sinto por você.

- E mas o que é o que eu sinto por você?

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09/Nov/2017 - Buenos Aires - 00h18

8.11.17

A Day at the Puerto ou Sozinha & Ansiosa na Cidade

A Day at the Puerto ou Sozinha & Ansiosa na Cidade

Dia de sol, fim de ano,
Saio da jaula de gravatas,
E em mim eu descanso.

Sem histerias de um não-amor,
Sem visitas por esperar ou fazer,
Sem verdades boas na mente por torcer.

O meu mundo caiu:
Você ignorou um áudio meu.

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06/Nov/2017 - Buenos Aires - 23h16

Paciência (Sabés que no aprendí a vivir)

Paciência (Sabés que no aprendí a vivir)

Dizem que você não me dá bota,
E que eu crio tudo nessa minha bocha.

Dizem que você não me ignora,
Que se você não me curtisse,
Não passaria aqui horas e horas.

Mas eu saio do casulo pra te dar um oi,
Pra ser presente,
Sem querer ser insistente.

E mirabolo um draminha pra fazer você sorrir,
Uma piadinha boba pra você se divertir.

Mas logo você sente que escapa aquele veneno,
Que eu guardei de amores e silêncios passados.

E no passo da paciência, eu só peço seus abraços,
Pois eu ainda estou aprendendo a tecer laços,
Nesse coração que só aprendeu a ser aço.

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08/Nov/2017 - Buenos Aires - 23h41

19.10.17

Abstração

Abstração

Temo morrer sem desatar,
Sem navegar, sem ser lar
Sem selar, sem encontrar.

Cresce incógnita em mim,
Sem traços e memória,
Esparrama seu manto branco,
Abstrata voo pra longe daqui.

Quem dera ser poeta,
E em cada verso iluminar outro coração.

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19/Out/2017 - Buenos Aires - 23h19

Ausência & Presença

Ausência & Presença

Há perguntas em mim,
Esperas em mim,
Ânsias em mim,
Silêncios em mim.

Viriam respostas do teu alô,
Nasceriam borboletas das notícias,
Me abraçariam e levariam esse nó.

E nos sonhos você volta,
Talvez porque nunca se foi;
E na viagem do busão,
Vens comigo também.

Eu te daria as chaves, digo pra mim,
Como se já não tivesse dado.

Meu passarinho silenciou quando você voltou.
O que aconteceu?, me perguntei
E ele apenas me fitou com o olhar sedento,
De quem já não podia cantar.

Mas eu não queria isso:
Na análise eu dei teu nome,
Falei de ti e de mim;
Eu queria consertos.

E agora meu peito tão racional
Só quer sarar,
Sem aceitar que há dores
Que aquela água oxigenada não poderá aliviar.

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19/Out/2017 - Buenos Aires - 00h40

4.10.17

Argentina o Amor Transfrontera

Argentina o Amor Transfrontera

Andá y elegí a tus iguales,
A tus futuros vecinos,
La terciaria del barrio para tus hijos,
La leche más barata para el desayuno.

El domingo no almorzaré asado,
Pero agarrada a mi idioma,
Superaré el vino,
Tus instituciones y tu idiosincrasia.

Del mate en la plaza que me llenó el pecho,
Solo tengo la memoria de lo que sería.

La vuelta a la casa después de tenerte
Es oscura y sin fin;
Es un grito que no sé como expulsarlo,
Seguido de una dura y silenciosa espera.

Y me pregunto siempre se debría decirte,
Que un día me enseñes a tocar el piano.

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04/Oct/2017 - Buenos Aires - 00h17

2.10.17

Morria aos pingados

Morria aos pingados

Morria aos pingados dentro de mim,
Um velho e tão atual Eu.

Enquanto morria,
Já não se importava com loucura ou orgulho;
Só buscava desinundar enchentes contidas.

Desenterrava pra semear,
Autocanibalismo pra aflorar.

E entendeu que na Morte há muita Vida.

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02/Out/2017 - VL, Buenos Aires - 23h45

17.9.17

Te extraño ou Neurose

Te extraño ou Neurose

Te extraño -
Quero falar de política com você,
E desacreditar no futuro com você.

Sem limite beber,
Vinho, cerveja, e fernet.

Te extraño -
Quero dissimular com você,
Atuar com você.

Repetir esse figurino batido:
Eu de natural, você de envolvido.

Te extraño tanto...
Quero coger com você,
Foder até o dia nascer.

Até a gente sair perdido,
Sem saber que rumo seguir desse nosso encontro já vencido.

♦   

Te extraño o Neurosis

Te extraño -
Quiero hablar de politica con vos,
Y desechar el futuro con vos.

Vino, cerveza y fernet
Sin límites escabiar.

Te extraño -
Quiero disimular con vos,
Actuar con vos.

Repitir este figurino conocido:
Yo de natural, vos de involucrado.

Te extraño -
Quiero coger con vos,
Foder hasta el día nacer.

Hasta salirmos perdidos,
Sin saber que rumbo tomar de estos nuestros encuentros ya vencidos.

___________________

17/09/2017 - VL, Buenos Aires, Argentina - 01h47


14.9.17

Crença

Crença

Sob a possibilidade do karma
Da influência da atraçao
Metafísica comprovada ou nao

Sob a drenagem e desmonte da análise
Do trauma ao caos

Sob a luz cálida de uma utopia
De manias e filosofias

Eu, errante
Só acredito no torpor do álcool e do cinema;
Só do que dá saída ao Delirante.

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06/Set/2017 - VL, Buenos Aires, Argentina - 22h43

9.9.17

Humilde

Humilde

Sou humilde e falsamente incógnita.

Na descoragem descubro minhas apostas
De presumir minha ignorância
De ver o fim, o oco
Me redimindo da minha covardia.

Amores em vão, amores que se irão
Amigos acolhidos, rostos que eu tardo para ler

Sou ingênua e desconfiada
Nos traumas escaldadas,
Entretanto espero no acaso.

Me destruo e me abandono
Na certeza da minha pequenez.
Aceito aberta o arriscar
Na esperança incerta de algo ganhar.

___________________

09/09/2017 - VL, Buenos Aires, Argentina - 18h29

3.9.17

Corpo ex-machina

Corpo ex-machina

Corpo rejeitado, corpo objetificado
Sair e entrar de muitos, de vários, diversificado
Usado

Corpo visível invisibilizado,
Por mim também ocultado

Corpo que ocupa, corpo que quer encaixar
Corpo mecanizado, máquina de pré-gozar

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02/Set/2017 - Buenos Aires, Argentina - 12h28

Conversão | Conversión

Conversão

Todos estes garcas
Intensos e frios,
Entre prédios cinzas, velhos & sujos,
Entre timbres graves e carros velozes.

Roupas escuras
Entrando e saindo de cafés.
E da janela vejo
Ônibus velhos com novas propagandas.

Aqui onde meu país é quintal,
Aqui onde se esbarra,
Se cai
Também se derruba.

Todo este cinza
E eu a cada dia mais.

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Conversión

Todos estos garcas
Intensos y frios,
Entre edificios grises, viejos y sucios,
Timbres graves y autos veloces.

Ropas oscuras
Entran y salen de los cafés.
Y desde la ventana veo
Viejos colectivos con nuevas propagandas.

Aquí donde mi país es un patio,
Aquí donde se resbala,
Se cae
También se empuja.

Todo este gris,
Y yo cada día más.

01/09/2017 - Buenos Aires, Argentina - 12h21

24.8.17

Trincheira

Trincheira

Busco o âmago das coisas,
Mas não sei falar do Intraduzível.

Minha língua quase morta,
De palavras que se perdem nas possibilidades das interpretações;
Minha língua já não é flecha.

Vivo na trincheira da minha mente,
Sou alvejada por reflexão & ruminar;
Sou refém do meu medo de arriscar.

Leio Hesse, Kerouac - deseo ser como Charly.
Não sou um ser, mas devo ser um produto
De ideias desordenadas, e de pouca fé no futuro.

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24/Ago/17 - Buenos Aires, Argentina - 11h42


18.8.17

Borda

Borda

Aos poetas, aos neuróticos
Aos drogados, aos psicóticos
Aos de alma turbulenta e mente inquietante

Aos que por chorar se afogam em lágrimas,
Aos que por confessar se enforcam em palavras

Aos Loucos, flamejantes
De um extremo ao outro, transitantes

Aos que caminham pela borda, saltam muros e fronteras,
Dançam sobre o abismo,
Mas que jamais vão estar no meio.

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Borda

A los poetas, a los neuróticos
A los drogados, a los psicóticos
A los de alma turbulenta y mente inquietante

A los que por llorar se ahogan en lágrimas,
A los que por confesar se ahorcan en palabras

A los Locos, flameantes
De un extremo al otro, transitantes

A los que caminan por el borde, saltan muros y fronteras,
Bailan sobre el abismo
Pero que jamás van a estar en el medio.

18/08/2017 - Buenos Aires, Argentina - 20h43

12.8.17

Divórcio & Assassinato

Divórcio & Assassinato

Ando cansada. Há um passarinho azul no meu peito, da mesma família do qual habitava Buk:
um passarinho inquieto, cada vez mais blue.

Ando querendo divórcio, romper com ele, com seu olhar sensível, com seus devaneios;
com seus diálogos infinitos, observantes, retóricos e sem-respostas aos céus azuis e edifícios antigos.

Pensei em assassinato, flertei com seu suicídio. Mirabolei, maquinei planos e possibilidades:
fugir, me mudar, novos amores, novos amigos; novas celas pra enjaular esse petulante.

Ele até se cala, hiberna, letárgico por meses, mas já retorna feito fênix,
da morte à merda da Vida.

Refleti por horas... talvez um feito meu, talvez sob influência do danado, e entendi:
é impossível esse fim - meu coração já é esse pássaro.

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02/07/2017 - Buenos Aires, Argentina - 10h13

Estoy de mudanza

Estoy de mudanza

Estoy de mudanza, voy por ruta abierta
Estoy de mudanza, puede ser que nada más me quede
Me queda poco, solo amar y seguir

Lo que era seguro ahora amenaza
Lo que era cierto ahora me encierra

Deseo partir liviana, sin los pesos del pasado
Sin acúmulos inútiles, sin valijas

Mi corazón es suficiente, guarda todo lo que necesito
Mi cabeza tenaz la voy dominando, aflojando bajo los contratiempos

Estoy de mudanza, que me quede poco
Solo amar y seguir

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12/08/2017 - Buenos Aires, Argentina - 15h23

15.7.17

La Voz de Los Demás

La Voz de Los Demás

Después de la euforia me enfria el desguace
Podría ser letargia pero quizás sea sólo paz
Es silencio, pero quizás la próxima herida por estallar

Me habla un semi conocido, de algo que no sé hablar
Sus vueltas me hacen cansar y a la vez me hacen pensar

Ya no busco nada; quiero ser hallada de golpe
Prefiero estar a merced de un soplo fresco
De estos que te hacen acordar como es sangrar

Te contaría que por amor, ya no espero lo de antes
Me cruzan los lentos de corazón, y yo ni les sé hablar
Pues hay abismos que sólo Charly se les podrían presentar

A veces me choco con la superficialidad
Por a la sencillez insistir cazar
Podrá ser letargia pero quizás sea sólo paz
No sé diferenciar mi voz de la de los demás

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15/Jul/2017 - Buenos Aires, Argentina - 20h17

10.7.17

Esta extraña influencia

Esta extraña influencia

                                                                              Dentro de mim ferve uma pomba-gira tímida e coqueta, que crê fortemente em sedução por olhares, e na força das palavras não-ditas.

Vim ao teatro; um off em Boedo.
Escolhi a peça e fui. Cada vez fica mais cômoda a experiência de sair a solas.

Cheguei, estava fechado, com uma lousa: "Estamos en función. Favor no abrir la puerta" - insólito. Breve espera; acompanhada de meu celular, e troca de áudios com mi mamá.
Poucos minutos depois abriu a porta um mocinho lindo, bastante comum mas lindo. Coqueteei com olhares mudos, e entrei. O espaço era bastante peculiar, como todo teatro alternativo: haviam diversos objetos colgados nas paredes, entre varietés e bonecos de papel machê.
Ao fundo, um casal falava com uma funcionária do local; o homem contava a ela sobre suas estadias e passadas por São Paulo y Rio de Janeiro, num misto de dicas, diálogo pouco mútuo, e passação de fatura - mal imaginavam eles que ali estava eu, brasileira, criticona e discordante.

Um pouco inquieta, um pouco incômoda, mas buscando me adaptar, esperei alguns minutos entre celular e devaneios. Me animei a me acercar ao barzinho popular do local:
- Hola, tenés agua? - pergunto ao garçom, também lindo.
- Sí, te doy un vaso - me diz, muito amável, e inesperadamente me olhando nos olhos.
- Dale! Bollet... botella no tenés? - devolvi, idiota e orgulhosamente sem-graça diante da gentileza atípica.
- No, no hay, pero te doy un vaso, es del dispenser - me diz sorrindo, e se vai pelo copo de água.
- Muchas gracias. Y este vino es tinto? - pergunto olhando para a lousa com preços.
- Sí, es este - e me mostra a garrafa. Olho consentindo, como se conhecesse a marca. Pago com troco certo - uma obrigação-educação que aqui aprendi para conseguir tirar um pouco de gratidão e gentileza dos comerciantes porteños.

A peça começou, observei atores e seus gestos, me fixo pouco no texto. Encarno um personagem detestável de olhares críticos e atentos.
Mas minha viagem mesmo é outra: tudo isso é um encontro comigo mesma; uma saída do casulo; un intento de animarme a despegar. E bêbada, com uns tragos na cabeça é mais fácil; sóbria sou detestável, racional, irremediávelmente processual.
A peça descorre; entre meus devaneios embrigados, sigo no meu personagem crítico e observador. Um dos atores me chama a atenção pela jovialidade de um moleque, e me faz lembrar de Juan P., um nene de pinto pequeno e olhos ternos que conheci.
Termina a peça e sigo com meu personagem crítico-observador. E acredito que um dos atores nota isso (ou fatalmente me sentei no lugar que ele usa como ponto de fuga, que sé yo...)
Me vou do teatro, automaticamente morto após o fim da função. Mas algo no meu espírito foi reacendido; um demônio velho amigo meu, buscando noite, brisas, álcool & histórias. Escrevo para os únicos amigos, num intento inútil de buscar a companhia parceira e adequada, mas essa ficha cada dia desce um pouco mais: os ditos amigos já passaram do prazo de validade; já não seguirão os velhos novos e necessários ritmos desse demônio.
Ainda assim me forço a encontrar um deles em uma pizzeria da Av. Corrientes: apenas comemos, e jogamos as mesmas palavras e assuntos repetidos ao vento; ambos fingindo novidade, e eu, fingindo normalidade.
Se termina, pedimos a conta e nos vamos: sigo buscando. Munida de meu novo companheiro, um fone de ouvido, ponho temas de Charly García, e vou lamuriando Canción 2 x 3, esperando um ônibus que felizmente não veio.
E me aventuro; caminho pelas ruas do Congreso, ruas essas que tantas vezes andei a essa mesma hora, mas acompanhada, na segurança da presença-ausente e distante de alguén(s).
Outras épocas, outras esperanças; menos apunhaladas; menos responsabilidades & noias na cabeça.

Caminhei entre metaleiros e góticos dos bares da Av. Rivadavia; muito breve, mas dando esses que considero os primeiros verdadeiros passos da independência solitária. Talvez motivada por nostagia, talvez por necessidade de rebeldia.
Dei a volta em duas quadras, sem jeito, perdida, errante a caminho de casa, mas querendo ficar.
Parei então num pub horrível da Av. de Mayo, o mesmo ao qual trouxe um romeno egoísta e pisciano que conheci há alguns meses atrás.
Foi fácil entrar: talvez pelos vinhos anteriores, tal vez bajo esta extraña influenza.

O fato é que algo mudou. Puedo ver y decir y sentir, mas é difícil abraçar, ver isso por completo - o que quer que isso seja.
Quero romper com tudo; me virar do avesso. Não é fugir, mas sim encontrar. Reinventar; mais urgente do que só escapar.

E num insight, vítima dessa minha inconsciência boêmia e errante, me dou conta de que esse também é o primeiro bar no qual pisei em 2014, acompanhada de um argentino bancário pervertido, e do qual fugi nos dias seguintes. O mesmo bar.

Son intuiciones? Verdaderas alertas? Não sei. Só sei que quero voltar a botar as cartas.

_________________________

10/Jul/2017 - 01h45 - Buenos Aires, Argentina

1.7.17

Devaneios & Resposta às Análises

Uma lagoa buscando ser drenada.

De trânsito invisível, um fantasma
A mirada atenta, a mente uma engrenagem

Flanagens compulsórias, flanagens possíveis
Vítima da Liberdade, refém do Intraduzível

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01/Jul/2017 - Buenos Aires, Argentina - 21h41

4.6.17

Lo tengo todo en un pen drive

Ensaiei sair só pela noite: ensaiei por semanas. Por fim sai num domingo, sem muitas pretensões. Por casualidade, invitei ao boy de um amigo, que aceitou de pronto; queria desabafar.
Entre comida e cerveja, verdadeira e justa, dei minha opinião mais franca, mesmo na dúvida se era o que ele queria ouvir ou não. No início me senti usada, mas depois só aceitei minha missão humana de ajuda em um momento difícil.
Ele se foi; sigo na mesa. Peço mais uma cerveja, e percebo que o casal ao lado está discutindo, sem muitos pudores, uma conversa onde ela acusa traições, negligências, e menciona que as provas estão todas em um pen drive. Ele murmureia, cabisbaixo, e nega.
Embuída de retórica inútil, me pergunto por que os homens mentem, por que são covardes, por que as mulheres se fazem de cegas e crédulas... relações de descontentes, de inconformes, cheias de silêncios e repetições. Tell me, tell me, Riddler, Riddler.
Me pergunto mas sei das respostas, e sei das causas.

Saio do bar, encorajada pela bad de Fake Plastic Trees que começa a tocar; o casal continuou discutindo; deixei um resto de cerveja. Caminho diretamente para tomar um táxi, que passa livre e me acena swingeando o dedo, dizendo que não pararia. Xingo, mostro o dedo do meio, y me quedo um minuto mais nessa esquina, e decido voltar ao bar para ir ao banheiro.
Nessa névoa, nessa brisa de Domingo + cerveja, vou caminhando em direção a uma rua possivelmente conhecida, com um leve receio no peito de ser assaltada ou de algo me passar. A verdade é que nada nunca me acontece - sempre desconfiei que é o resultado exitoso de malandragem, rua, bar e pensamento positivo.
Há um encanto em caminhar por ruas de forma desplanejada e inesperada, ainda que atenta e esperta a todos os ângulos e atitudes suspeitas. Essa é a manha, a arte para se andar na rua - manha criada em Sampa.

Caminho certa de tomar o 168, ainda que esteja cheio de gente desesperançada, pobre e muda. Mas topo de cara com a parada do 90, um antigo ônibus que tomava para ir para os lados de Villa Urquiza, quando fazia nesse bairro, um curso de leitura de Tarot.
O 90 é um daqueles ônibus de caminho desgraçadamente largo, mas de surpresas, guardadas só para aqueles que estão atentos e abertos. Em um trajeto de 01h30, ele cruza quase que metade de Buenos Aires passando pelos bairros mais subestimados e escondidos: Almagro e seus rincones, La Paternal, Chacarita e Villa Urquiza, chegando quase no limite com a província.
Tenho carinho imenso pelo recorrido desse ônibus: caminhos e paisagens que o metrô jamais poderia proporcionar.

Subo então no 90, na ideia e na segurança de descer perto de casa. Peço a tarifa ao motorista, e me escoro em uma dessas estruturas próprias para a bunda dos observantes-flamboyants. Revejo com carinho meus rincones favoritos de Almagro, entre eles o cruze da calle X e X, onde há um pequeno jardim suspenso. Muros e paredes imensas esperando murais, pixos e graffitis; muros que separam trilho + trem, de rua + casas. Repito: só para loucos, só para flamboyants.

A vida oferece pequenos deleites, pequenos mas especiais para os sensíveis. Reconheço que toca Dire Straits; logo após Money For Nothing entra Brothers In Arms, álbum e tema que ouvi tantas vezes no escuro do quarto da casa de minha mãe. E vou, levada por imaginação & som, enquanto nos acercamos da Plaza Miserere.
Mudamente canto junto, acolhida e agradecida por me encontrar e pertencer à decadência.

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04/Jun/2017 - Buenos Aires, Argentina - 21h17

28.5.17

D'o que eu quis

Quis ser Louca, andarilha na posse de uma rosa e uma trouxa;
Livre passaporte, uma junkie,
do Sub-Mundo, uma transitante.

Quis ser poeta de Luas, que corre em águas profundas;
Bruxa, um pacto com a Natureza, leitora intima das Cartas.

Quis ser amante e amada profundamente,
Por cada ferida, por cada beleza, por cada dor, por não ser pré-feita.

Quis ser Livre, com um passarinho azul que voa pra longe,
que retorna quando quer;

Viajante, forasteira constante, perdida em selvas e cidades,
Mas talvez só por instantes.

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28/Maio/2017 - 18h35 - Buenos Aires, Argentina




8.5.17

Azul Buk

A tristeza é um pássaro azul que levo guardadinho no peito.

Meu amigo não pode vê-lo, pois ele é um refém, amedrontado.
Minha mãe não o ouve cantar; ele só fala comigo, na calada da noite.

Mas meus amantes todos o intuem, baixinho e valente sussurrar: desse peito, o dono sou eu.

________________________

08/Maio/2017 - Buenos Aires - 23h32

Realidade post-mortem

     Você apareceu sete meses depois...
                                                            depois de eu já ter o coração feito pedra outra vez,
                                                            depois de eu enxergar todas minhas falhas & failures.


     ¿Cómo agir?

      a) fingir; amável, naturalmente
      b) urrar mágoas feito louca
      c) ignorar.                                                                 (urrando mágoas feito louca por dentro)
      d) não saber por não entender
      e) confirmar meu delivery, com hora e local marcados                 (pronta entrega, por favor)
X    f) responder e morrer por dentro. e fingir estar bem.
                                                                                        pra depois você sumir.
                                                                                                                            como sempre.


Meu coração é coveiro: guarda e enterra, indiscriminadamente.

________________________________

08/Maio/17 - Buenos Aires - 23h04

3.4.17

Muerte Poesía

A morte, eita coisa mais estranha
Nós aqui, planejando e criando
Nós aqui, fazendo agendas e planilhas
Nós aqui, crescendo raízes fortes

A morte, eita coisa estranha
Um pisco, um baque
Um rompe algo, um coração que para
Não mais respirar, não mais controlar

______________

08/Abril/2017 - Buenos Aires - 00h28


25.3.17

Útero

Quero sair, mas ficar
Me aconchegar, mas pronto levantar
Um ninho que me acolha, de onde eu posso voar

Esse vazio inomeável
De duras raízes, entranhadas
Erva daninha, acorrenta o peito

Esse vazio insustentável
Impálpavel e presente
Que espreme a alma e vai escorrendo pelos olhos...

________

25/Mar/2017 - Buenos Aires, Argentina - 15h22


14.3.17

Bucaresti

I

Um intento de coragem, um retorno a velhos hábitos
Me lanço medrosa à saídas casuais por essa velha Buenos Aires.

Eu, temerosa
Corpo e fluidos partilhados entre nações e culturas
Adicta ao efêmero

Tu, erres que rolam travados
Povoando meu imaginário desse distante Leste
Olhos lânguidos, nariz comprido

Nós, colonizados e emergentes, sobreviventes aos Sonhos de Outros.

II

Me esquivo para o lado, numa reprodução de experiências passadas
Aguardo seu corpo aconchegado, formando uma concha
Intimidade passageira, breve ao adeus

Com a mão firme, confiança trêmula, afago sua mão
Mão a mão, toque a toque se dá a conexão
Intimidade passageira, breve ao adeus

Me calo, silencio os temores e anseios
Mais uma vez regida pelo Acaso, sino do Zodíaco:
Piscis, mi cura y veneno

Me calo, insatisfeita.
Avançam as horas: a luz do dia nunca dá tregua.
O Adeus presente, desconforto instalado.

III

Caminho pelo Centro, entre emoções túrbias, indefinidas
Resignação ou iluminação, agradeço o Amanhecer;
Aprecio o caminhar antes da turba e dos carros.

Boto um The Doors: essa criança abandonada em mim quer colo.
Adormeço com essa angústia... recebo mensagem sua
O Adeus já real, após intimidade passageira.

_____________________

14/Mar/17 - Buenos Aires, Argentina - 14h46

25.2.17

Ritual do Café

Foi apenas outro dia na vida: acordei, descansada, organizei meu espaço como todas as manhãs. Me levanto do meu colchão posto no chão na intenção de aliviar dores; abro as persianas, velhas e de madeira. Me olho muitas vezes no espelho: reprovando e aprovando, ora minha bunda flácida, ora meus ombros que parecem despontar alguns indícios dos resultados da dieta.
Me olho nos olhos; inchados, pequenos, porém desenhados. Avalio minha pele, resultado do dinheiro gasto em cremes anti-idade, comprados exatamente para períodos: um para o dia, outro para a noite.

Um giro de 180 graus, e abro a porta da cozinha: sou golpeada por um grande bafo quente - lá fora é o Inferno sobre a Terra. Resistente, ligo o registro de gás e acendo o fogo. Separo a caneca branca comprada em uma lojinha descolada de São Paulo. Agarro o coador de pano, já encardido pelo o uso. Com uma mão busco o pote do café - café brasileiro, sem dúvidas. E outra vez então, me detenho em pensamentos sobre a quantidade.
É absurdo como ainda sonolenta, minha memória se ativa cotidianamente a relembrar comentários x de uma colega de trabalho: "minha mãe sempre disse que são duas colherzinhas cheias". Claramente tal comentário me marcou, eu que sempre duvidei das medidas. Devaneio mais um pouco, em segundo plano, sobre o ritual de meu avó ao fazer café pelas manhãs. Guardo e perpetuo muitos hábitos aprendidos na infância, menos o do preparo do café. Devaneio ainda um pouco mais, em terceiro plano, sinto uma culpa frágil por não seguir esse ritual. Talvez por isso ainda duvide quanto pó de café colocar.

Diferentemente de meus avós, não deixo a água ferver: aprendi já grande, pela internet, o ponto exato de ebulição. Me entrego aos devaneios, e sigo remontando na memória o ritual do café...

Eram já as quatro ou cinco da manhã. Meu avô que dormia na sala, abria as janelas e ficava aí, observando não sei o que. Talvez o céu, escuro por despertar. Talvez o movimento das primeiras pessoas que surgiam na rua, a caminho de suas rotinas. Ou falava com Deus. Não sei.
Minha mãe, sempre temerosa, desaprovava, dizia que meu avô espiava bandidos do bairro.
Quinze minutos após a contemplação, se dirigia o velho para a pia: enchia uma leitera velha sua com um pouco mais de um litro de água. Agarrava um filtro de plástico, onde encaixava o filtro de papel, e logo depois, completava com algumas medidas de café.

"Quantas medidas eram?", "Quantos gramas seriam? Três colheres de sopa? Ou quatro?".
Levo comigo essa dúvida, pois nunca lhe perguntei. "Vô, quantas medidas o senhor usa?". Distante e fria, nunca o consultei.
E levemente me invade essa culpa frágil, esse lamento pela oportunidade perdida. Sentimental me coloco por minutos, às vezes manhãs inteiras.
Todo esse universo e memórias se desenrolam em segundos, em frações de segundos. Tudo isso em quanto estou coando meu próprio café, em outra cidade, outro ano, sob outro espírito.
O velho, por hábito, esterilizava a garrafa térmica com água indevidamente fervida.
... Faço uma pausa num esforço de lembrar... Vertia aos poucos a água fervida, indevida, sobre o pó de café, enquanto o cheiro de café invadia o resto da casa, nos acordando: "te apressa a comprar pão quente, Patrícia!", e entra minha avó. Detenho essa memória, pois a carga é grande para apenas mais uma manhã na minha vida.

Meu café já preparei - estou a ponto de adoçá-lo. "Deveria também esquentar o café já coado?", "Não, é indevido". E assim vou reformulando a prática, desmontando o hábito, com o simples ato de passar um café.

E como meu avô adoçava o café? Com açúcar. Ele jamais usaria mel como eu, aqui, em outra cidade, outro ano, sob outro espírito.

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25/Fev/2017 - Buenos Aires, Argentina - 01h12

23.2.17

Dinamo

A Roda gira
- já não lamento mais.

Quando abaixo, quando vazia, que farei?

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23/Fev/17 - Buenos Aires, Argentina - 14h31

27.1.17

Nostalgia

A vida só faz sentido
Se tem nostalgia.

Nostalgia e uma taça de vinho que adentra a madrugada.

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27/Jan/17 - Buenos Aires, Argentina - 00h48



20.1.17

Cansada

Socialmente cansada,
E a cada momento de alívio, me surge um novo questionamento.

Minhas necessidades, suprimidas, já não são supridas -
É a sobrevivência instalada.

Me refugio nos vícios até eles virarem rotina
Mas a rotina não vicia - queima e refluxa.

Toda demonstração de felicidade é a prova do vazio
Verbalizam, fotografam, riem - já não aguento mais.
Mas minha mente e dedos seguem automáticos às respostas pois há uma sobrevivência a ser mantida.

Todas essas costuras, essas amarras
Todas essas expectativas postas, pressionadas

Meu basta sai frágil e mudo...

E todos esses sonhos a serem adiados.

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20/Jan/2017 - Buenos Aires, Argentina - 15h12