21.11.19

Caraminholas existenciais

/// Caraminholas Existenciais

Um peso nos meus dedos... toneladas na mente... coração ressecado...
- Me ponho ao exercício desgastante & engrenante do expor. -

Por muito tempo, acreditei que os antídotos contra as mazelas eram encontrar o Amor em alguém - amar e ser amado. Eu o encontrei, umas quantas vezes. E quando o encontrei, encontrei também a dor.
Se fui encontrada, não tenho certeza.

Desconfio que eu seja vítima de um hábito; uma forma que aprendi de amar e querer.
Outras vezes, acredito que seja fatal, como um despacho da Fortuna.



- Sei lá, há tanto para dizer e tão poucos para ouvir... -

Tenho memória grande, tipo baú. Dizem que isso é ruim, mas só sei ser assim.
Eu busco e sonho com as mudanças; com mudanças bruscas do meu Eu.
E, todas as vezes que enxergo o/um Caminho, ele é sempre frio e distante.
Ele é sempre o oposto do que fui. E isso por si só, antinatural.

Me falam sobre as medidas temperadas, sobre os níveis.
Conhecer "O Equilíbrio" é uma exigência protocolar dessa época.
Tecem, finitamente, sobre uma alquimia do ser.
Veja: os alquimistas foram ultrapassados, pois a evolução é imparável.
O mundo é imparável. E, diante dele, eu sou pequena.

Tantos desejos pra tão curto tempo e aberturas...
Em mim, habita uma megalomania que reprimo, e que reprimem.
Reprimem, e reprimo.

É inexorável a dança involuntária do tempo, carne-matéria e mente.
Que injusto: todos esses desejos, toda essa mente, condicionados à uma eterna manutenção da matéria.



- Tanto para dizer... -

Em tantos milênios, ocidentais, orientais e acidentais
Tudo já foi dito, e ainda assim,
Não termina a vontade em dizer.



Sou um ser repartido, um ser fragmentado.
Poucas regras quero seguir; muitas estou cansada para quebrar.
Admiro os verborrágicos,
Mas desconfio que se existem, estão deslocados nessa época.
A tônica geral é "seja breve" -
Seja bom ou seja mau, mas seja breve.

Sou um ser amosaicado. Quebrado e semi-conectado.
Veja: em algum momento, isso seria estilo.
Hoje, seria apenas uma condição de desnível -
Mental, cognitivo, intelectual ou emocional.

É que tudo pode ser Tudo.
E esse Tudo, pode ser nada.


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21/nov/19 - São Paulo - 18h15

13.9.19

A fresta que Exu abriu.

/// A fresta que Exu abriu.

Se na sala enorme do meu ser,
Eu me vejo pelo buraco da porta,
E não há espaço entre tempos e anos,
E me vejo pequena nas partidas,
E me vejo grande nas aspirações,
Me pergunto:

Com quem está a chave desta porta?

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24/jul/19 - São Paulo - 22h57

Parto & Nascimento

/// Parto & Nascimento

Coração moídinho,
Em caquinhos.

Gotita, Superbonder.

Escrevo um poema,
E monto um mosaico.

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18/ago/19 - São Paulo, Bom Retiro

Saturnices: quando Cronos se entrona.

/// Saturnices: quando Cronos se entrona.

Pari um filho Sem Nome.

Esse Filho é
Uma bocarra que abocanha
E devora.

Como semente reguei.
Ô, terra fértil esse peito meu!

Se aninhou um passarinho,
E ovos deixou.

Choquei e aqueci os filhotes.
E entendi que sou pessoa,
Não pássaro.

Mas, como desamar um filho?
Como devorar o que se criou?

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05/set/19 - São Paulo, sala de produção

26.6.19

Impermanente

/// Impermanente

É fio frágil no Tempo
A cama quente,
A oração,
O riso de quem eu amo.

O cigarro que se vai,
Um perfume,
O dinheiro que vem,
O abraço de um amigo.

A esperança dentro do sonho ou
O sonho dentro da esperança.
- Formam o chão.

Fio frágil no Tempo.

É que, hoje, tenho dentes,
Hoje, vou na gira pra me acalmar,
Hoje, tenho vinho e
A voz de quem eu amo.

Mas só por hoje existe chão.

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Impermanente

Es hilo frágil en el Tiempo
La cama cálida,
La oración,
La risa de la persona que amo.

Una mirada que se va,
Un perfume,
La plata que viene,
El abrazo de un amigo.

La esperanza dentro del sueño o
El sueño dentro de la esperanza.
- Forman el suelo.

Hilo frágil en el Tiempo.

Es que, hoy, tengo dientes,
Hoy, voy a la gira para calmarme,
Hoy, tengo vino y
La voz de quien amo.

Pero solo por hoy hay suelo.

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25/jun/19 - São Paulo, linha azul

24.6.19

A Enchente | La Crecida

/// A Enchente

Foi um mês de enchente.
Uma enxurrada lavou,
Mas também sujou.

Agora, recolho
O que a água levou.
Olho os restos,
E não consigo reconhecer nada.

Parece espera,
Parece esperança,
Parece brilho nos olhos
Diante daquele quadro intrigante que vi.

É que, outra vez, a correnteza veio forte.

Agora, para poder voltar a ver,
Vou botar no Sol.

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/// La Crecida

Fue en mes de inundación.
Una crecida que lavó,
Pero que también ensució.

Ahora, recojo
Lo que el agua se llevó.
Miro a los restos,
Y no puedo reconocer nada.

Parece espera,
Parece esperanza,
Parece brillo en los ojos
Frente a aquel cuadro intrigante que vi.

Es que, otra vez, la corriente se vino con todo.

Ahora, para poder volver a ver,
Voy a dejarlo al Sol.

24/06/2019 - Mente & Matéria: São Paulo, Brasil

4.6.19

Tiempo, pase, por favor.

/// Tiempo, pase, por favor.

Evito preguntarle al Tiempo
Qué seremos en tres, cuatro días
Qué sentiremos en el pasar de semanas y vidas.

Evito preguntarle al Tiempo
Cuánto y cómo esperar.

Calmo el temor, el temblor, la ansiedad y los desgastes internos
Con tragadas calculadas
De este pucho que me salvó
De mi partida desde Ezeiza, con gusto a hasta luego.

Evito, evito, evito
Y lo pregunto.

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04/jun/2019 - Mente: Buenos Aires, Argentina; Materia: São Paulo, Brasil

3.4.19

Dos Poetas

/// Dos Poetas

A miséria e a desilusão já não são
Interpretações anacrônicas de poetas mortos:
Agora elas ficam para dormir.

Poetas são seres alcalinos no mundo,
Que filtram e guardam
A escuridão da humanidade.

A garantia do poeta é o
Trunfo do desprezo e da incompreensão.
A ingratidão da posteridade,
Por um presente solitário.

Poetas habitam o fundo, debaixo do tapete.
Poetas são quase ácaros.

E agora sim eu sou poeta: porque
Vivo minha própria miséria, e minha própria época.
Não há tempo para sublimar em
Rimbauds, Baudelaires, e outros malditos.

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02/abr/2019 - São Paulo, Brasil

Nós, os ratos

/// Nós, os ratos

Aluguei meu refúgio interior,
Como um repertório explorável,
Em troca de poucos trocados.

Minhas ideias sugadas,
Que eletrificam a Roda que infarta
E nos matará.

Náusea me invade.
Meus únicos esconderijos...
Minhas músicas; meus livros; meus ídolos.

E quando meu rosto dedurar minha idade?
Em qual vala serei descartada, junto das minhas ideias?

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02/abr/2019 - São Paulo, Brasil

19.3.19

Borboleta

/// Borboleta

Conflito entre fala e Liberdade.
Mordaça invisível,
Mas quase tangível.

Ânimos, Áries, Marte.
Espasmos,
Músculos.

Extremos:
Contração e descontração.
Tensão prévia à autodepreciação.

Tom de voz.
Chamado ao confronto?
Libertar o ímpeto de dizer o que se guarda.

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12/mar/2019 - São Paulo, Brasil

1.3.19

Dove Rosa

/// Dove Rosa

O cheiro
Daquele Dove
Me traz de volta dias vividos
E jamais esquecidos
Porém perdidos na memória.

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20/fev/2019 - São Paulo, Brasil

Fala

/// Fala

Temos ossos aplastados,
Sonhos sufocados,
Bocas abafadas,
E esperanças encarceradas.

Regras e dedos nos cercam.

Eles são os donos do nosso pão.
Eles vingam a moral da fé comum:
Tiram quando querem,
Esmolam quando querem.

Então, fique sabendo que eu não tenho mais
Compromisso com fins otimistas.
Falo o que vejo:
Não suavize o que eu digo.

Cambaleando, eu prefiro
Segurar o peso das minhas ideias.
Eu tombo sim, mas sou leve
Pela liberdade que alçam as minhas palavras.

Quero minha indignação sempre viva.

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16/fev/2019 - São Paulo, Brasil

8.1.19

Poema das Cinco Interfaces | Poema de las Cinco Interfaces

/// Poema de las Cinco Interfaces

                                                      Atravesso a Noite com Drummond.



Quando quase enlouqueci,
Um analista desses que simplificam tudo, me disse:
"Vai, Flora, ser gauche na vida!"

No escritório vejo as moças passarem:
Saias brancas, blusas floridas.
"Para que a mesma paleta de cores, meu Deus?" - me pergunto,
E minha lucidez me responde de imediato.

Meu Deus, por que me abandonaste,
se sabias que eu não era classe média,
se sabias que eu seria mais uma fora do padrão?

Mundo, Estado, vasta cidade;
Se eu mudasse de escala seria uma saída temporária, não uma solução.
Quarto, bairro, de empresa em empresa:
Mais vasta é a minha insatisfação.

Eu não devia me por assim,
mas esse país,
mas essa conjuntura,
botam a gente deprimida como o Diabo.

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/// Poema de las Cinco Interfaces

                                                      Cruzo la Noche junto con Drummond.



Cuando casi me enloquecí,
Un analista de esos que simplifican todo, me dijo:
"¡Andá, Flora, a ser gauche en la vida!"

En la oficina veo las chicas que pasan:
Faldas blancas, remeras floridas.
"¿Para qué la misma paleta de colores, Dios?" - me pregunto a mí,
Y mi lucidez de pronto me contesta.

Dios, ¿por qué me abandonaste,
Si sabías que yo no era de clase media,
Si sabías que yo iba a ser otra más al margen?

Mundo, Estado, vasta ciudad;
Si yo cambiara de escala sería una salida temporaria, no una solución.
Habitación, barrio, de oficina en oficina:
Más vasta es mi insatisfacción.

No debría ponerme así,
Pero este país,
Pero está coyuntura,
Nos pone deprimidos como un Diablo.

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02/01/2019 - São Paulo, Brasil

O Sonho da Vida Própria

/// O Sonho da Vida Própria

Os prédios no horizonte
sólidos e unidos, parecem eternos:
não importa o quão jovem são
segundo o consenso arquitetônico.

Sólidos, unidos, e, aparentemente, eternos.
Neles se iniciam os sonhos, e
neles se encerram os ciclos e
desejos de vidas urbanas.

Aos quase trinta,
me questiono o que nunca fiz antes:
devo casar ou comprar uma passagem de avião?

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02/jan/2019 - São Paulo, Brasil